
Na verdade, fomos agraciados com um contundente trabalho de expressão cultural, plástico e performaticamente encantador, que nos levou a uma "viagem" de reconhecimento e leitura dos nossos costumes, nossa gente, nossas músicas, nossas labutas, nossas religiões.
Nada, nem ninguém, ficou de fora do olhar profundo, crítico e caprichoso dos mentores intelectuais deste espetáculo, particularmente do nosso mago do bailado, coreógrafo e criador Rodolpho Sandes.
Apagaram-se as luzes... abriram-se as cortinas e o dia amanheceu a margem de um rio fictício, mas que todos sabemos que ele existe e está em algum lugar conhecido.
Agora, são visíveis os primeiros personagens dessa saga dançante, musical, alegre e nordestina: as nossas heroínas lavadeiras da beira do rio.
Numa sincronia perfeita, melodiosa, agradável aos olhos, ouvidos e os demais sensores humanos, vamos identificando nossas raízes e vivências remotas e atuais.
As lavadeiras e o galanteador vão, aos poucos, se transformando nos mais variados personagens da nossa cultura. Cheios de graça, mas envoltos no mais requintado estilo de dança e teatro modernos.
O jogo de luzes, cenário, figurino, músicas, sons multifacetados, em consonância com os trejeitos, movimentos, acrobacias e as habilidades de balé clássico, brilhavam incansavelmente na harmonia dos cinco bailarinos.
A platéia em êxtase, silenciosa e atenta não conseguia sequer piscar. Os elementos da natureza fluiam e se misturavam, num liame frenético, concatenados com o ritmo e a dança. Ato contínuo e tudo foi nascido, criado e multiplicado entre clarões refletidos, gelo seco, sons e muito movimento. Os atos eram síncronos e quase imperceptíveis pela agilidade e sutileza com que o grupo se revezava e se trocava sem perder a graça, nem o time sharing.
Pronto. Precisava ser purificado.
Em silêncio, o processo foi concebido pelo "néctar dos deuses" e o silêncio quebrado em duas bacias de alumínio.
Dois personagens brincam e batem com sofreguidão o precioso liquído da vida. Estão empapados de tanto "socar" a água que se espalha por toda a "terra"...
Voltamos ao escuro e a platéia entra em delírio pela beleza do espetáculo e por se sentir lavados, purificados e abençoados pelos jovens deuses da arte da dança.
Luzes acesas, brilhos nos olhos de todos e estamos imortalizados culturalmente pelo REVERSO, de Rodolpho Sandes e seus magníficos companheiros, numa leitura artística e expressiva inconteste.
Renato Alves.(Professor e cineasta)
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